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Aprendizagem da leitura e da escrita

A partir de recursos educativos digitais: o recurso Ensinar e Aprender Português (EAP).


A utilização de recursos digitais, no contexto educativo, revelou-se especialmente importante durante o auge do período pandémico da infeção por Covid 19. Com o encerramento generalizado de escolas em mais de 200 países, afetando mais de 1.5 milhões de alunos (UNICEF et al., 2020), houve necessidade, de forma ágil de fazer cumprir o direito à educação. Numa notável capacidade de resposta da comunidade em geral, foi possível encontrar um plano de contingência em que o modelo de escola tradicional, deu lugar a um modelo alternativo de ensino à distância (Ewing & Cooper, 2021).


Contudo, esta nova configuração de ensino, trouxe inevitavelmente perdas. O que se perdeu?


Aspetos como a relação pedagógica (professor-aluno), a falta do ambiente escolar e todas as questões de socialização entre pares, mas também perdas muito significativas ao nível da aprendizagem de conhecimentos e de competências (Duarte, 2021). Importa ainda salientar um aspeto amplamente referido na literatura, que se prende com o aumento das desigualdades no acesso à educação (Donnelly & Patrinos, 2021; UNICEF et al., 2020).


Apesar dos recursos digitais, se terem tornado familiares no contexto educativo, durante os últimos anos, a verdade é que o período pandémico acelerou a sua utilização e consciencializou os diferentes atores educativos, acerca das suas potencialidades, por exemplo ao nível da recuperação das aprendizagens e na intervenção com alunos com dificuldades de aprendizagem. Importa ainda salientar que a aprendizagem da leitura e da escrita, revela-se como um momento crítico no percurso educativo de muitos alunos, pelo que assegurar a intervenção específica, de acordo com a s necessidades do aluno, no tempo ótimo de intervenção revela-se preponderante para prevenir percursos escolares de insucesso.


Assim, o recurso digital, EAP- Ensinar e aprender Português, disponibilizado recentemente (Ribeiro et al., 2021), constitui-se como uma resposta a alguns dos desafios educativos colocados em contexto pandémico e pós-pandémico. O EAP é um recurso educativo digital destinado ao ensino da aprendizagem da leitura e escrita no primeiro ciclo do ensino básico e à recuperação de aprendizagens. Entre os seus principais objetivos educativos, destacam-se o apoio no processo de

ensino/aprendizagem da leitura e da escrita, a sinalização de alunos em risco de aprendizagem na leitura e na escrita, o apoio a alunos com dificuldades ou “em risco”, na aprendizagem da leitura e da escrita, bem como o desenvolvimento de competências autorregulatórias e de estratégias de aprendizagem. O EAP apresenta também objetivos de largo alcance como a promoção da literacia e transformação digital, a promoção da motivação para a leitura, dando resposta aos desafios da equidade e inclusão (Ribeiro et al., 2021). Em consonância com os princípios plasmados no Decreto-lei nº54/2018 referente à Educação Inclusiva (Decreto-lei nº

54/2018, de 6 de julho), permite a identificação de alunos em risco de aprendizagem

de leitura e escrita, potenciando a abordagem multinível. Numa lógica de ensino que

se diferencia do modelo tradicional, este modelo de intervenção antecipa as dificuldades através da avaliação e monitorização, calibrando o tipo, a intensidade e a frequência da intervenção (Fuchs & Fuchs, 2009). Como parte integrante do recurso EAP, a provas de rastreio e as provas de monitorização, dão oportunidade de concretizar processos de tomada de decisão, acerca de importantes aspetos do processo de ensino/aprendizagem dos alunos, baseados em dados concretos, indo assim ao encontro das propostas encontradas na literatura sobre a abordagem multinível (e.g. Fuchs & Vaughn, 2012).


O EAP está organizado por ano escolares (primeiro, segundo e terceiro anos) e diversas atividades desenvolvem-se com a interação de diferentes personagens (equipa ALEPE) que se constituem como “tutores virtuais”. Estes assumem um papel preponderante na dinâmica de ensino/aprendizagem, tais como fornecer explicações, exemplos, informação prévia, regras de leitura, feedback e reforço (Ribeiro et al., 2021).


As diversas competências relacionadas com a aprendizagem da leitura e escrita, são trabalhadas, com recurso a vídeos, materiais multimédia e materiais para download para consolidação da leitura e escrita, organizadas em diferentes áreas temáticas. As diferentes áreas temáticas organizam-se em sequências pedagógicas que se passam a enumerar: 1-“História da aprendizagem da leitura e escrita”; 2- “Aprender a Ler e a Escrever” (destinada a melhorar a consciência fonológica, correspondência fonema-grafema, grafema-fonema, consolidação de leitura e escrita de palavras, frases e pequenos textos; 3- “Leio frases e textos” (trabalhar a fluência de leitura), 4- “Oiço e compreendo” e “Leio e Compreendo” (melhorar a compreensão oral e escrita); 5- “Biblioteca de truques” (regras específicas de ortografia); 6- Gramática e produção de

textos escritos; 7- Educação para a literacia (contacto com literatura infantil, conhecimento de vida e obra de autores de referência). Todas as atividades podem ser partilhadas por alunos, pais ou professores, com a comunidade educativa através do “mural”, com possibilidade, de colocarem “gosto”, ou escreverem uma mensagem na publicação. Importa por último salientar que este recurso conta com um sistema de reforço positivo operacionalizado através de crachás digitais.


Assim, à medida que os alunos vão realizando as atividades com sucesso e completando as diferentes sequências didáticas, vão amealhando crachás diferenciados, aspeto com especial

relevância na promoção da motivação dos alunos (Ribeiro et al., 2021). 


Um outro aspeto relevante do EAP, tendo como base o modelo multinível (L. Fuchs & Vaughn, 2012), diz respeito às provas de rastreio e monotorização, que permitem respetivamente, identificar os alunos em risco de aprendizagem de leitura e efetuar a monitorização da

intervenção especificamente planeada para estes alunos.


Como funcionalidade refira-se ainda a correção automática das referidas provas e a

disponibilização dos resultados, em formato de relatório, que fica disponível na área do professor. Ainda tendo por base o modelo multinível e o conceito de diferenciação pedagógica, o EAP permite ao professor a atribuição de tarefas diferenciadas aos alunos, podendo os resultados serem monitorizados pelo professor, uma vez que ficam disponíveis para consulta. 


Importa ainda salientar, que todas as sequências didáticas apresentadas, têm na sua génese, uma sólida base teórica e científica. Destaca-se para tal, o Modelo Simples da Leitura proposto por Gough & Tunmer (1986) e revisto por Hoover & Gough (1990) que oferece uma estrutura teórica importante para as sequências didáticas do EAP. Este modelo propõe que a compreensão da leitura (CL) resulta do produto de duas competências: a decodificação (D) e compreensão oral (CO)- CL = CO x D (Gough & Tunmer, 1986), competências essas trabalhadas de forma consistente nas sequências do EAP. Como suporte teórico são ainda incorporados, o modelo multinível, as teorias cognitivas e comportamentais da aprendizagem e da motivação, bem como a investigação sobre o ensino da leitura e escrita.


A partilha deste recurso educativo digital, tem como objetivo dar a conhecer, a professores, profissionais da educação, psicólogos, mas também aos encarregados de educação, uma ferramenta com suporte científico e académico (Professora Doutora Fernanda Leopoldina Viana- Centro de Investigação em Estudos da Criança e Professora Doutora Iolanda Ribeiro-Centro de Investigação em Psicologia da Universidade do Minho) que se pode constituir uma mais-valia no processo de ensino-aprendizagem dos alunos, assim como nos processo de intervenção de natureza psicoeducativa.



Referências:

Donnelly, R., & Patrinos, H. A. (2021). Learning loss during Covid-19: an early systematic review. Prospects. 51,

Donnelly, R., & Patrinos, H. A. (2021). Learning loss during Covid-19: an early systematic review. Prospects. 51,

Ewing, L. A., & Cooper, H. B. (2021). Technology-enabled remote learning during Covid-19: perspectives of

australian teachers, students and parents. Technology, Pedagogy and Education, 30(1), 41–57.

Fuchs, D., & Fuchs, L. S. (2009). Responsiveness to intervention: multilevel assessment and instruction as early

intervention and disability identification. The Reading Teacher, 63(3), 250–252.

Fuchs, L., & Vaughn, S. (2012). Responsiveness-to-intervention: a decade later. Journal of Learning Disabilities,

Hoover, W. A., & Gough, P. B. (1990). The simple view of reading. Reading and Writing: An Interdisciplinary

Ribeiro, I., Viana, F. L., Ramos, R., Cadime, I., & Santos, S. (2021). Ensinar e Aprender Português: a digital

resource for learning to read and write. Proceedings of EDULEARN21 Conference. pp.9243-9247.

UNESCO; UNICEF & Wold Bank. (2020). What have we Learned?: Overview of findings from a survey of

ministries of education on national responses to COVID-19. https://data.unicef.org/resources/national-


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Dr. Nuno Oliveira, OPP 1463

Psicólogo no Personalizar


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